sábado, 8 de agosto de 2009

Da série Grandes Oxímoros Sutis da humanidade

Botafoguenses racionais e céticos;

Movimentos camponeses de inspiração marxista;

Governo de esquerda que reduz imposto;

Travestis lésbicas;

Direito alternativo;

Feministas donas de casa.

sábado, 1 de agosto de 2009

O fato, depois de ocorrido é inapriensível. É uma enorme crueldade científica, positivista, tentar se aproximar o máximo possível do fato, tentar reconstruí-lo como ele foi. O ser humano não foi programado para isso, embora muitos, como eu, busquem essa meta. No que se entendia originalmente, você viveu e ponto. O que te resta é uma memória ardilosa, que te faz lembrar de coisas que nunca ocorreram e esquecer algumas que de fato ocorreram. Pra registrar o fato exatamente como houve, existe ciência, que a gente chama de história. Pra registrar a memória existem contadores de história.

Contadores de história são muito diferentes de historiadores. Para os contadores, a mesma história nunca é igual. O mesmo fato sempre muda na história que eles contam. E porque, embora eles jurem pela fidedignidade de seus relatos, eles não estão nem aí para o que de fato ocorreu. Isso não interessa. Pelo menos, não a eles. Interessa ao historiador, eu acho, mas jamais ao contador de história. A realidade e seus fatos não passam de substratos que permitem a eles, contadores de história, contarem boas histórias.

Agora, não se pode abrir mão de que a história fique boa. Logo, se uma parede que era verde na realidade tenha que virar bege na história, ou se o que aconteceu com um sobrinho tenha que ter acontecido com um filho, ou se o que aconteceu na terça tenha que ter ocorrido num sábado, que se façam as trocas nos relatos. Afinal de contas, de que importa a realidade, a menos para ela mesma? Não deveria importar mais o sonho, a risada, a reflexão?

Com o passar dos anos eu vi meu pai tornando-se mais científico e menos contador de história. Eu detesto isso. Apesar de ter sempre a pretensão de entender os fatos e não de contar nada a ninguém, o que me levou pro lado científico, eu gostava de ouvir as histórias de meu pai, que volta e meia ele ainda conta. E toda vez que ele conta uma história, a história é diferente. Desde muito novo, eu me dei conta que as histórias não refletiam exatamente a realidade. Nem deviam. Por isso é divertido ouvir ele contar. Mesmo depois de ter ouvido um milhão de vezes. Cada uma das um milhão é diferente da outra.